A
expansão da leitura em determinados círculos mais instruídos do século
XVIII criou um conjunto de imagens que conduziram aquela para uma
construção de imagens, de que a arte deu conta de um modo significativo.
A leitura como prazer, já por aqui brevemente discutida oscilou entre a
atribuição de um significado aos espaços de intimidade do lar e uma
visão mais moralista, os pensamentos que os leitores acalentavam para
eles próprios. Jean-Siméon Chardin e Pierre-Antoine Baudoin foram dois
pintores, entre outros que deram corpo a essas duas visões sobre o
prazer da leitura.
A
leitura, no seu acto de ler foi ela própria analisada no interior da
sociedade do século XVIII, como um fenómeno muito útil, pois incentivava
a construção de uma vida mais virtuosa. Outros viam nessa ideia de
trazer consigo um livro e a ele dedicar-lhe bastante tempo diário o
sinal de um declínio inexorável dos costumes e da própria organização
social. Alguns que se dedicavam ao comércio do livro chegavam a
pronunciar a ideia fatal de que o livro tinha trazido tanta infelicidade
à vida privada das pessoas, como a Revolução Francesa à vida pública da
sociedade.
Mesmo
no interior do iluminismo chegou-se a ouvir que a leitura ao limitar os
movimentos físicos e colocando muito valor na imaginação e no despertar
das emoções daria um incentivo a modos de um certo vício aristocrático,
como o tinham visto em séculos passados. Foi uma campanha que se
desenvolveu em finais de Setecentos no sentido de moralizar a sociedade e
sobretudo de domesticar o alcance da leitura no feminino. Estas
diligências não obstruíram o progresso da leitura individual na Europa e
na América do Norte entre os séculos XVIII e XIX.
Apesar
desses progressos, a leitura como fenómeno de grande alcance cultural e
social apenas se concretizaria no século XX. E ocorreu no seio de
grandes transformações sociais, como foram a industrialização, a
democratização de algumas sociedades e as mudanças na educação. O século
XX ao elevar a um grande significado as capacidades da literacia entre
todas as classes sociais e ao prolongar a instrução no tempo favoreceu
esta expansão da leitura.
Estas
transformações deram a possibilidade de acelerar o papel da leitura,
como elemento transformador das sociedades e das possibilidades
individuais de cada um. E, nesse sentido, as ameaças da leitura vista
em séculos anteriores tornar-se-iam o motor de uma real transformação da
sociedade e trariam a todos, as imensas capacidades da leitura para
mudar o pensamento e assim a acção de cada um no interior de um tempo
social e cultural.
Imagem: copyright: Jean-Honoré Fragonard, A leitor, c. 1776, National Gallery of Art, Washington.
Imagem: copyright: Jean-Honoré Fragonard, A leitor, c. 1776, National Gallery of Art, Washington.
Fonte: Stefan Bollmann, “Uma História da leitura, do século XIII ao século XXI”, Círculo de Leitores, Lx: 2005.

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