A leitura
aproxima-nos de universos desconhecidos, formula possibilidades às
interrogações que o conhecido nos coloca. Seria assim possível ver nos leitores
feitos de homens e mulheres o campo para uma aproximação no campo humano? Seriam
os leitores como construtores de uma imaginação possíveis elementos de um
entendimento sobre as dificuldades de cada um? Ou então, poder-se-ia perguntar
que um leitor não tem género e que o objecto da leitura pode nos dois chegar ao
coração, depois das palavras lidas?
Pode o livro assegurar essa igualdade de
género que são as palavras ditas e por isso pode a leitura construir o que
Gertrud Lehnert chamou o possível encontro de almas? É um sonho belo em que
seria bom acreditar. Virginia Woolf acreditava que o livro e a sua substância
poderia apenas ter uma acção de transformação quando se concretizasse essa
fusão, entre o leitor e o autor, como um encontro de espíritos. Aliás ela em
Orlando misturou os géneros para nos dizer que essas duas possibilidades
poderiam ser um encontro de algo maior do que cada um individualmente. E, nesse
sentido seria uma história que no colectivo era uma história de amor. Mas, o
que dizer de como eles e elas se mostram como Leitores?
Os leitores no seu
sentido global foram quase sempre os que liam no feminino. Saberiam os homens
mais das mulheres se lessem Sylvia Plath, ou Carson MacCullers, ou Virginia
Wolf?
Saberiam as mulheres
mais dos homens se lessem Hemingway, ou Capote, ou Faulkner, ou Balzac? No essencial as mulheres já o fizeram
numa expressão íntima da leitura. Leram mais e de modo diferente, o que ainda
fazem. As mulheres, ao serem grandes leitoras já fizeram essa identificação
entre homem e mulher, herói e heroína, entre leitora e autor ou autora.
Parece consensual que as mulheres amam os homens que lêem, mas o contrário parece
pouco credível.
A leitura conjunta
entre homens e mulheres é rara. Parece ser pouco prático, parece um perigo. A
história de Francesca e Paolo relembra-nos desse perigo, quando os próprios
relembram o episódio de Lançarote. Essa
leitura conjunta conduziu-os ao Inferno, como o expressa Dante na sua A divina
Comédia. A leitura é um processo individual, mas quem se ama gosta
particularmente de ler no outro o seu amor, como se fosse um livro, uma
aprendizagem e uma construção emotiva. Um leitor aprecia os seus livros, como
um amante aprecia os beijos de quem ama.
Imagem: Copyright – Anselm Feurbach, Paloe Francesca, 1864, Schack-Galerie,
Munique.
Fonte: Elke Heidenreich, “Do perigo
de as mulheres lerem demasiado”, in Stefan B0llmann, Uma história da leitura
desde o século XIII ao século XXI, Círculo de Leitores, Lx: 2005. 
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