Foi o século dos
iluministas que encontrou essa possibilidade. Esse prazer relacionou-se com
aquilo que a sociedade burguesa haveria de designar os prazeres da vida
privada. Essa ideia que também foi designada no título de um quadro do século
XVIII, justamente de Jean-Siménon Chardin apelava mais ao espaço de lazer, de
fruição no quotidiano, do que do prazer. Falemos dele.
O quadro de Chardin
falava sobretudo de uma forma de disfrutar lazer, como tempo do quotidiano. O
quadro mostra-nos uma mulher sentada de um modo muito confortável numa grande
poltrona e que segura no seu colo um livro. Ao fundo do quadro encontramos
objectos diversos, uma mesa com roda de fiar, uma terrina e um espelho e um armário
com a porta entreaberta. Os elementos do quadro dão-nos então os sinais de uma
vida privada, não necessariamente de um prazer no quotidiano. As cores da
mulher são muito mais vivas que o do resto do espaço habitado. A cor terá aqui
a função de separar as ideias de prazer e lazer?
No
quadro o livro aparece-nos
a dizer que este momento é apenas um entre outros dedicado a outras
tarefas. Não
existem testemunhas que interrompam o momento, ou que solicitem algo,
que
habitem o espaço. Ela também não está a ler, parece apenas meditar em
algo
lido. Não existe um ponto de referência para essa leitura, ela parece
vaguear
em algo que nós não conhecemos e o seu olhar talvez seja só o efeito
dessa
leitura, o momento em que ela cria uma imagem do mundo, a sua. E é isso
que faz um grande leitor, o momento para a criação das imagens que a
leitura permitiu realizar.
Imagem: Copyright – Jean-Siménon Chardin, Os prazers da vida privada, 1746, Museu Nacional
de Belas-Artes da Suécia, Estocolmo.
Fonte: Stefan Bollmann, “Uma
História da leitura, do século XIII ao século XXI”, Círculo de Leitores, Lx:
2005.

Sem comentários:
Enviar um comentário