Leitura e sociabilidade podem-nos dizer que por aquela se construíram a construção de uma personalidade. A educação do indivíduo, forma de elaboração de uma individualidade capaz de assegurar uma comunidade participada fez-se em determinados tempos por essa dupla construção, a de uma personalidade e de uma liberdade. A arte tentou dar-lhe um sinal na leitura do feminino com a reprodução de corpos desnudados no melhor dos sentidos.
Justamente alguém capaz de se oferecer à leitura,
integralmente, absorvendo as palavras, conduzindo-se por imagens a reconstruir em
si, alimentando um coração, uma vida. E encontrar no autor essa criação que o
leitor assume em múltiplas perspectivas para si criando essa fusão no espírito
das ideias e nas faculdades do próprio leitor. Leitura feita como um amor a
preservar para algo maior em que se fundamenta a vida e que importa continuar a
construir, em abnegação e em virtude. Deste jogo do espírito feito pelos livros
nasce, ou pode nascer uma coragem dada por uma confiança do que se apreendeu.
E, mais do que a vida é nos livros que se persiste a aprender e a encontrar
possíveis. Há quadros na arte que nos dão essa procura e esse encontro, como se
o mundo dependesse na sua verdade e inteligibilidade desse momento de leitura.
O quadro é de Harald Metzkes e o que é extraordinário nele é a forma como o
corpo de uma mulher se debruça sobre a leitura. Ela está sentada a uma janela,
de onde se observa um fundo de paisagem natural sem identificação de pessoas.
Ela está junto à janela numa atitude de apreensão do que lê. O dia parece estar
a clarear, mas a leitura parece conduzir toda a sua acção.
O quadro revela-nos
essa postura de dar às palavras a possibilidade de um conhecimento e de uma
fuga, mas também concede algo de revolucionário. Justamente a crença de que nas
palavras pode estar a esperança para algo novo, diferente no real, e, nesse
sentido é o próprio desafio ao destino que ela revela. Mudará alg0?
Isso não é importante, pois a leitura neste caso é a ferramenta para a construção de uma força interior. Nada mais decisivo para a formação de cada um e para a respiração da sua vida. E saber que é nessa esperança, nessa perigosa esperança que a vida se pode construir uma liberdade, essa fragrância que muitos ainda não têm.
Isso não é importante, pois a leitura neste caso é a ferramenta para a construção de uma força interior. Nada mais decisivo para a formação de cada um e para a respiração da sua vida. E saber que é nessa esperança, nessa perigosa esperança que a vida se pode construir uma liberdade, essa fragrância que muitos ainda não têm.
Imagem: Copyright – Harald
Metzkes, Mulher a ler à janela, 2001, Galeria Leo Coppi, Berlim.
Fonte: Elke Heidenreich, “Do perigo
de as mulheres lerem demasiado”, in Stefan B0llmann, Uma história da leitura
desde o século XIII ao século XXI, Círculo de Leitores, Lx: 2005.

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