das perguntas sempre iguais
Das gerações infindáveis de infiéis
Das cidades cheias de tolos (...)
O que há de bom no meio disso,
Oh eu, Oh vida,
Que você está aqui
Que a vida existe
E a identidade...
Resposta
Que a poderosa peça continua
e você pode contribuir com um verso."
Biblioteca
imaginária é aquilo que cada um é, o vivido e o sonhado, o combatido e o
criado. Tudo o que
vivemos é feito de histórias. Instantes criados, vividos e embalados em
momentos, onde lugares, geografias, atmosferas, objectos, pessoas se
oferecem numa composição de múltiplas faces. As histórias, como nós, são
os elementos multiplicados e recontados como se tratasse de uma boneca
russa, as matrioskas do que nos é possível contar, ou tão só imaginar.
As
Histórias. São elas que nos compõem. Dão-nos pontos de referência,
alimentam-nos em geografias de impossível, ou em desejos de mudança, em
respostas para o ocasional. Nelas sobrevivemos ou nos perdemos a compor
aquilo que o real devia ser. São pois lugares, atmosferas, vivências do
que amamos, das relações que conseguimos estabelecer. Sem elas não temos
identidade, não temos um reconhecimento do mundo, pois elas são mais
que o nosso nome, são as nossas propriedades no real. As Histórias
podem nos salvar e podem nos fazer naufragar. No fim as Histórias somos
simplesmente nós.
Caminhamos
na vida fazendo escolhas, recriando as possibilidades nascidas no azul e
imaginamos essa velha ingenuidade de que criamos uma História. A de que
nós somos uma narrativa de gestos e espaços, aventuras e falhanços. Às
vezes, muitas vezes não é assim. As Histórias são elas, as condutoras do
que acabamos por fazer. Há Histórias, como vidas escritas que nos
chegam e que nos influenciam, nos fazem fazer escolhas, antes da própria
escolha. A História que compomos é no fundo a escrita do que soubermos
ouvir, da liberdade concedida a cada experiência relatada na memória.
As
Histórias podem ser a chave para nos fazer decidir as escolhas, o
registo de significado que poderá permitir múltiplas portas, de onde
sairemos para a nossa História, a que soubermos escrever. Se ela tiver a
capacidade de se escrever aumentando as que recebemos, ou dando-lhe
oportunidades possíveis. Assim, no fim, a nossa História poderá ser mais
um ponto, um divergente ponto, quase uma formulação para outras
múltiplas Histórias. Essas com que fazemos o rascunho do possível, ou o
modo como nos integrámos no mundo. As Histórias, ou a nossa é só o modo
como soubemos resolver a cor dos dias, de que pedras se formaram os
nossos despojos, ou tão só, o que fizemos das flores silvestres
adormecidas em tempos de usura. Em todas as tardes as maçãs das
Hespérides caem no sentido das nossas Histórias.
(1) - Folhas de erva: antologia
/ walt Whitman ; selec. e trad. José Agostinho Baptista - Lisboa :
Assírio & Alvim, 2003. - 415 p. : il. ; 21 cm. - (Grãos de pólen ;
4). - ISBN 972- 37- 07357
Imagem: Copyright - - A Woman reading in a interior, Carl Vilhelm Holsøe.

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