quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Histórias...

 

"Oh eu, Oh vida,
 
das perguntas sempre iguais
Das gerações infindáveis de infiéis
Das cidades cheias de tolos (...)
O que há de bom no meio disso,
Oh eu, Oh vida,

Que você está aqui
Que a vida existe
E a identidade...

Resposta

Que a poderosa peça continua
e você pode contribuir com um verso."
 
Biblioteca imaginária é aquilo que cada um é, o vivido e o sonhado, o combatido e o criado. Tudo o que vivemos é feito de histórias. Instantes criados, vividos e embalados em momentos, onde lugares, geografias, atmosferas, objectos, pessoas se oferecem numa composição de múltiplas faces. As histórias, como nós, são os elementos multiplicados e recontados como se tratasse de uma boneca russa, as matrioskas do que nos é possível contar, ou tão só imaginar.

As Histórias. São elas que nos compõem. Dão-nos pontos de referência, alimentam-nos em geografias de impossível, ou em desejos de mudança, em respostas para o ocasional. Nelas sobrevivemos ou nos perdemos a compor aquilo que o real devia ser. São pois lugares, atmosferas, vivências do que amamos, das relações que conseguimos estabelecer. Sem elas não temos identidade, não temos um reconhecimento do mundo, pois elas são mais que o nosso nome, são as nossas propriedades  no real. As Histórias podem nos salvar e podem nos fazer naufragar. No fim as Histórias somos simplesmente nós.

Caminhamos na vida fazendo escolhas, recriando as possibilidades nascidas no azul e imaginamos essa velha ingenuidade de que criamos uma História. A de que nós somos uma narrativa de gestos e espaços, aventuras e falhanços. Às vezes, muitas vezes não é assim. As Histórias são elas, as condutoras do que acabamos por fazer. Há Histórias, como vidas escritas que nos chegam e que nos influenciam, nos fazem fazer escolhas, antes da própria escolha. A História que compomos é no fundo a escrita do que soubermos ouvir, da liberdade concedida a cada experiência relatada na memória.

As Histórias podem ser a chave para nos fazer decidir as escolhas, o registo de significado que poderá permitir múltiplas portas, de onde sairemos para a nossa História, a que soubermos escrever. Se ela tiver a capacidade de se escrever aumentando as que recebemos, ou dando-lhe oportunidades possíveis. Assim, no fim, a nossa História poderá ser mais um ponto, um divergente ponto, quase uma formulação para outras múltiplas Histórias. Essas com que fazemos o rascunho do possível, ou o modo como nos integrámos no mundo. As Histórias, ou a nossa é só o modo como soubemos resolver a cor dos dias, de que pedras se formaram os nossos despojos, ou tão só, o que fizemos das flores silvestres adormecidas em tempos de usura. Em todas as tardes as maçãs das Hespérides caem no sentido das nossas Histórias.

(1) - Folhas de erva: antologia / walt Whitman ; selec. e trad. José Agostinho Baptista - Lisboa : Assírio & Alvim, 2003. - 415 p. : il. ; 21 cm. - (Grãos de pólen ; 4). - ISBN 972- 37- 07357 
Imagem: Copyright - - A Woman reading in a interior, Carl Vilhelm Holsøe.

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