domingo, 17 de fevereiro de 2019

O livro e a leitura

 
 "Todo o poema é um fragmento, mais ou menos
curto de um infinito poema universal..." (Shelley)

Biblioteca imaginária é um fundo de palavras, um barco de imaginação para reter as que nos dão uma memória, as que nos permitem fazer um caminho de possibilidades, como um jogo de sedução pelas oportunidades criadas pela imaginação. O tempo pode perturbar-se, pode alimentar desencontros. Pode ser um mecanismo, onde somos repartidos, antes de o delimitarmos em nós, coma a repetição do Chapeleiro, onde às cinco horas eram sempre horas de chá, ou pode ser uma construção, uma forma de resistência.

Biblioteca imaginária foi a história da leitura, essa composição de sonhos que livro e leitores construíram na intimidade da leitura. Séculos, longos séculos assistiram no território da intimidade a essa composição de olhares a procurar sentido nas palavras, a tentar definir caminhos, tantas vezes uma forma de sobreviência em sociedades fechadas, determinadas pelo preconceito, pela exploração individual de cada um.

Nessa Biblioteca imaginária, que é no fundo uma História da Leitura tiveram especial destaque as mulheres. Foram elas, são elas ainda os grandes leitores, no sentido largo da Leitura. A arte, através da pintura e da fotografia recolhem esses instantes, que eram pequenas memórias de um quotidiano, mas também espaços largos de algo maior, ainda que muitas vezes apenas um fragmento de uma possibilidade no real. 

Esta leitura evoluiu muito entre os princípios do mundo medieval e a sociedade contemporânea.  Durante muito tempo essa leitura era uma ousadia, um risco para a coragem de cada um. O nome da rosa de Umberto Eco dá conta desse perigo que era o riso alimentando a dúvida, a partir do conhecimento, da leitura. No feminino essa coragem estendeu-se por muitos séculos.  O papel da mulher na sociedade impediu durante muitos séculos esse acesso à leitura, à intimidade das palavras. 

Houve um momento em que os espaços de intimidade, também no feminino se encheram de palavras. Isso veio permitir alargar esses territórios, tornando-os mais latos, onde as ideias, a fantasia e o conhecimento alargaram-nos até que se formalizaram como uma ameaça à ordem social e cultural dominante. A leitura integrou novas experiências, novas formas do possível que lhes eram desconhecidas, que não faziam parte daquilo que lhes era destinado. A História da leitura e concretamente no feminino, como a história da escrita representam uma Biblioteca imaginária, não só de sonhos, mas também de construção de uma sociedade mais aberta.

Imagem: Copyright - R. Casas Carbó, Depois do Baile, 1895, Museu de Monserrat, Catalunha.

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