"Todo o poema é um fragmento,
mais ou menos
curto de um infinito poema universal..." (Shelley)
Biblioteca
imaginária é um fundo de palavras, um barco de imaginação para reter as
que nos dão uma memória, as que nos permitem fazer um caminho de
possibilidades, como um jogo de sedução pelas oportunidades criadas pela
imaginação. O tempo pode perturbar-se, pode alimentar desencontros.
Pode ser um mecanismo, onde somos repartidos, antes de o delimitarmos em
nós, coma a repetição do Chapeleiro, onde às cinco horas eram sempre
horas de chá, ou pode ser uma construção, uma forma de resistência.
Biblioteca
imaginária foi a história da leitura, essa composição de sonhos que
livro e leitores construíram na intimidade da leitura. Séculos, longos
séculos assistiram no território da intimidade a essa composição de
olhares a procurar sentido nas palavras, a tentar definir caminhos,
tantas vezes uma forma de sobreviência em sociedades fechadas,
determinadas pelo preconceito, pela exploração individual de cada um.
Nessa
Biblioteca imaginária, que é no fundo uma História da Leitura tiveram
especial destaque as mulheres. Foram elas, são elas ainda os grandes
leitores, no sentido largo da Leitura. A arte, através da pintura e da
fotografia recolhem esses instantes, que eram pequenas memórias de um
quotidiano, mas também espaços largos de algo maior, ainda que muitas
vezes apenas um fragmento de uma possibilidade no real.
Esta
leitura evoluiu muito entre os princípios do mundo medieval e a
sociedade contemporânea. Durante muito tempo essa leitura era uma
ousadia, um risco para a coragem de cada um. O nome da rosa de Umberto
Eco dá conta desse perigo que era o riso alimentando a dúvida, a partir
do conhecimento, da leitura. No feminino essa coragem estendeu-se por
muitos séculos. O papel da mulher na sociedade impediu durante muitos
séculos esse acesso à leitura, à intimidade das palavras.
Houve
um momento em que os espaços de intimidade, também no feminino se
encheram de palavras. Isso veio permitir alargar esses territórios,
tornando-os mais latos, onde as ideias, a fantasia e o conhecimento
alargaram-nos até que se formalizaram como uma ameaça à ordem social e
cultural dominante. A leitura integrou novas experiências, novas formas
do possível que lhes eram desconhecidas, que não faziam parte daquilo
que lhes era destinado. A História da leitura e concretamente no
feminino, como a história da escrita representam uma Biblioteca
imaginária, não só de sonhos, mas também de construção de uma sociedade
mais aberta.
Imagem: Copyright - R. Casas Carbó, Depois do Baile, 1895, Museu de Monserrat, Catalunha.

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